A Abordagem Resiliente como Intervenção para Ansiedade e Fobia Social: Estudo de Caso

A Abordagem Resiliente como Intervenção para Ansiedade e Fobia Social: Estudo de Caso
Introdução

A Psicoterapia com Abordagem em Resiliência (PAR) foca em ampliar a resiliência, abrangendo a capacidade de lidar com desafios e adversidades do cotidiano. Fundamentada no modelo teórico “Abordagem Resiliente” (ARslnt), estruturado por George Barbosa (2020), busca fortalecer a capacidade de resposta a situações adversas, promovendo comportamentos resilientes.
A resiliência, neste contexto, é entendida como a habilidade de agir estrategicamente para enfrentar desafios e adversidades, por meio de pensamentos e comportamentos flexíveis, minimizando impactos negativos (SOBRARE, 2018). Esse conceito é expandido para incluir a ressignificação de crenças profundas e o ajuste cognitivo e emocional, alinhando-se à ideia de perseverança e propósito de vida (Brandalise et al., 2018).
Barbosa (2015) apresenta a resiliência psicológica como composta por oito áreas cognitivas que constituem os Modelos de Crenças Determinantes (MCDs): Autocontrole, Autoconfiança, Análise de Contexto, Conquistar e Manter Pessoas, Empatia, Leitura Corporal, Otimismo para com a Vida e Sentido de Vida. Esses componentes definem o comportamento orientado para a gênese e a robustez da resiliência, ampliando os conceitos propostos por Rutter (1987).
A relação entre resiliência e ansiedade tem sido amplamente estudada. Estudos como o de Cyrulnik (2009) sugerem que traumas mal resolvidos, como luto e separação, podem agravar sintomas de ansiedade e fobias. A PAR, ao trabalhar com a ressignificação utiliza-se da escala QUEST_Resiliência (Barbosa & Barbosa, 2018) e outros instrumentos como “mecanismos de mudança”.

Metodologia
Foram realizadas 12 sessões de psicoterapia breve, com sessenta minutos cada, utilizando a ARslnt. O estudo concentrou-se em uma mulher de 56 anos, casada, mãe de um adolescente, com formação média e pertencente a uma comunidade espiritual. Ela apresentava ansiedade grave e fobia social, atribuídas ao luto pela perda do pai há cinco anos. Esse evento gerou medo intenso de morrer, refletindo-se em isolamento e recusa a sair de casa.
Os instrumentos utilizados como “mecanismos de mudança” para avaliar o progresso incluíram:
Beck Anxiety Inventory (BAI) para medir os níveis de ansiedade.
Beck Depression Inventory-II (BDI-II) para avaliar sintomas de depressão.
Outcome Questionnaire-45.2 (OQ-45.2) para monitorar o estresse semanal.
QUEST_Resiliência, ferramenta para avaliar comportamentos resilientes em diferentes áreas da vida.
Cada sessão abordou cinco MCDs principais: Autocontrole, Otimismo para com a Vida, Autoconfiança, Análise de Contexto e Empatia. As intervenções incluíram Questionamento Socrático e Dessensibilização Sistemática, que visavam identificar crenças limitantes e promover respostas resilientes.

Resultados
Inicialmente, a paciente apresentou escores severos nos instrumentos psicométricos: 28 no BAI (ansiedade moderada) e 29 no BDI-II (depressão moderada). A análise das primeiras sessões revelou que o medo de sair de casa estava fortemente relacionado ao luto não elaborado pela morte do pai. A paciente também apresentava reações catatônicas diante de situações de estresse.
A intervenção focou na reestruturação de pensamentos automáticos distorcidos e na exposição gradual a situações temidas. Durante o processo:
A técnica de Questionamento Socrático ajudou a identificar crenças disfuncionais e promover comportamentos resilientes.
A Dessensibilização Sistemática expôs a paciente progressivamente a atividades temidas, como realizar compras sozinha.
Ao final do tratamento, os escores reduziram significativamente:
BAI: de 28 para 5 (ansiedade mínima).
BDI-II: de 29 para 3 (sintomas mínimos de depressão).
OQ-45.2: de 88 para 46, indicando melhora substancial no bem-estar geral.
As Tabelas 1 e 2 ilustram a evolução dos escores e dos níveis de resiliência:

Sessão SRSDIRTotal
16591088
12ª 1427546

Considera-se que:
SD – Sintomas de stress ruim possui um intervalo de 0 – 100
IR – Relações interpessoais possui um intervalo de 0 – 44
SR – Papel Social possui um intervalo de 0 – 36

Tabela 2: Evolução dos MCDs

Modelo de Crença Determinante
Sessão 1Sessão 12
AutocontrolePC-P4PC-P3
AutoconfiançaPC-EPC-I3
EmpatiaPC-P2PC-I1
Otimismo para com a VidaPC-P4PC-P2

PC-P : Padrão Comportamental de Passividade frente ao estresse
PC-E : Padrão Comportamental de Excelência diante do estresse
PC-I : Padrão Comportamental de Intolerância face ao estresse

Discussão
Os resultados confirmam que “mecanismos de mudança” colaboram para contribuição da PAR no tratamento de transtornos de ansiedade e fobia social. A redução dos escores psicométricos demonstra que trabalhar crenças centradas nos oito MCDs é decisivo para promover mudanças comportamentais significativas e comportamentos resilientes.
Além disso, a mudança gradual observada no comportamento da paciente, que passou a sair de casa e retomar atividades do dia a dia, indica que o processo dos “mecanismos de mudança” para ressignificação emocional foi bem-sucedido. A aplicação da Dessensibilização Sistemática e do Questionamento Socrático como complementos, associada à modulação das crenças resilientes, foram fundamentais para transformar os padrões de comportamento passivo e melancólico em atitudes mais assertivas e flexíveis.
Comparando com a literatura, os achados corroboram que resiliência é essencial na superação de transtornos emocionais (Cyrulnik, 2009). A abordagem também validou a importância de abordar o luto no tratamento da ansiedade, como indicado por Zwielewski & Sant’Ana (2016).
Entretanto, algumas questões metodológicas e conceituais merecem atenção:
Generalização dos resultados: Sendo um estudo de caso único, os resultados não podem ser extrapolados para outras populações.
Ausência de Grupo de Controle: Não houve grupo controle para comparar os resultados obtidos.
Falta de diversidade nos integrantes da pesquisa: O perfil da paciente é específico, limitando a compreensão sobre a aplicação da ARslnt em população.

Conclusão
A flexibilidade cognitiva e emocional promovida nos MCDs da ARslnt se demonstraram essenciais para que a paciente conseguisse superar o medo de sair de casa e retomasse uma vida mais ativa e independente.
Os resultados aqui apresentados reforçam a relevância da ARslnt como uma metodologia que muito contribui no tratamento de transtornos psicológicos relacionados ao estresse e à ansiedade.
Porém, por ser um único caso, os resultados sugerem a necessidade de estudos adicionais para se validar a eficácia da PAR em uma população maior e mais diversa.

Stefanie Cerqueira Siqueira

Stefanie Cerqueira Siqueira

Psicóloga Clínica, certificada na PAR

Dr. George Souza Barbosa

Dr. George Souza Barbosa

Doutor em Psicologia Clínica, orientador

Dra. Rosana Trindade S Rodrigues

Dra. Rosana Trindade S Rodrigues

Doutora em Psicologia Clínica, orientadora

E-mail: Stefanie Cerqueira Siqueira – psistef.cs@gmail.com

Referências Bibliográficas

CYRULNIK, B. Resilience: How Your Inner Strength Can Set You Free from the Past. Penguin Books, 2009.

Artigos em Periódicos

BECK, A. T. et al. An Inventory for Measuring Depression. Clinical Psychology Review, v. 8, n. 1, p. 77-100, 1988.

BRANDALISE, M. H.; BARBOSA, G.; CENTENO, R. S.; YACUBIAN, E. M. T.; DE ARAUJO FILHO, G. M. Depressive and Anxiety Symptoms Exert Negative Impact on Resilience to Stressful Events in Patients with Refractory Temporal Lobe Epilepsy with Late Seizure Recurrence after Surgery. J Psychol Psychother, v. 6, n. 269, 2016. doi:10.4172/2161-0487.1000269.

RUTTER, M. Resilience in the face of adversity: Protective factors and resistance to psychiatric disorder. British Journal of Psychiatry, v. 147, p. 598-611, 1985.

ZWIELEWSKI, G.; SANT’ANA, V. Detalhes de protocolo de luto e a terapia cognitivo-comportamental. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, v. 12, n. 1, p. 27-34, 2016.

Capítulo de Livro

BARBOSA, George. Psychotherapy in one Approach of Resilience (PAR). In: IONESCU, Serban; MAZUREK, Hubert (Coord.). Pratiques Basées sur la Résilience. Marseille: AMU, IRD, LPED, 2020. p. 115- . 568p. 4ème Congrès Mondial sur la Résilience, Jun 2018, Marseille, France. ⟨hal-02465380v2⟩.

Trabalhos Publicados em Eventos

BARBOSA, G.S. Psychotherapy in one Approach of Resilience (PAR): Findings. 48th International Annual Meeting Society for Psychotherapy Research, Amsterdam, Holland, 2018a.

BARBOSA, G. S. Psychotherapy in one Approach of Resilience (PAR). 4ème Congrès mondial sur la résilience, Marseille, France, 2018b.

BARBOSA, G. S. A thorough analysis of the cognitive process of promoting resilience in psychotherapy. 46th International Annual Meeting Society for Psychotherapy Research, Philadelphia, USA, 2015.

BARBOSA, G. S. Strategies in cognition to develop resilience (SCDR). 48th International Annual Meeting Society for Psychotherapy Research, Toronto, Canada. 2017.

BARBOSA, G. S.; BARBOSA, M. A. Pensamento psicossomático como fundamento teórico para um conceito de resiliência. X Congreso Latinoamericano de Investigación en Psicoterapia. – Society for Psychotherapy Research Latin American Chapter, Buenos Aires, 2012a.

BARBOSA, G. S.; BARBOSA, P. A. QUEST_Resiliência: Brazilian questionnaire to map resilience. First International Conference on Resilience. – Society for Psychotherapy Research Latin American Chapter, Buenos Aires, 2012b.
Material Online

BARBOSA, G. S.; BARBOSA, P. A. Escala de mapeamento da resiliência QUEST Resiliência versão adultos. 2018. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/341273604_Escala_de_mapeamento_da_resiliencia_QUEST_Resiliencia_versao_adultos. Acesso em: [20 10 2024].

SOBRARE. Disponível em: https://sobrare.com.br/pagina/resiliencia. Acesso em: [20 10 2024].